Susete S.: 2009

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Susete Sampaio, da Agência Lusa

Lyon, 30 Nov (Lusa) - O escritor timorense Luís Cardoso gostaria de ver coesão política no seu país e uma estratégia comum para a saúde e educação, "aquilo que é básico para o Estado de Timor-Leste.
Em entrevista à Lusa, o escritor timorense considera-se porém esperançado no futuro do seu país, onde este ano, ao contrário dos últimos, não houve problemas que conduzissem à instabilidade.
Numa passagem pela cidade francesa de Lyon, recordou o passado instável da sua terra natal durante uma palestra sobre o seu livro "Crónicas de uma Travessia", numa iniciativa conjunta da Universidade Paris III, da Escola Normal Superior de Letras e Ciências Humanas e da Universidade Lumière II de Lyon, com o patrocínio do Instituto Camões.
O livro "Crónicas de uma Travessia" foi escolhido para o presente ano lectivo, como opção de português, para o exame do concurso de agregação de professores de espanhol do ensino secundário, em França, e na obra o autor fala das suas vivências em Timor e "da travessia de Timor na sua história, primeiro com a colonização portuguesa e depois com a ocupação indonésia".
Cardoso viveu, à distância, como estudante em Lisboa, a descolonização e a instabilidade política provocada pela invasão indonésia.
Para este antigo membro da Resistência, a descolonização do país foi precipitada, que foi bem preparada pelo Estado Português, mas "os timorenses não estavam preparados politicamente" e logo a seguir chegou a guerra civil.
O escritor considera que actualmente falta "coesão política para o país", apontando a educação e a saúde e lembrando que "Timor tem muito dinheiro e pode implementar essas políticas".
Cardoso reconhece que nem todos os países estrangeiros podem ser benéficos para Timor: "Dada a conjuntura internacional, dada a pressão da Austrália e dos países vizinhos, Timor tem vivido numa eterna convulsão."
O presente ano anunciou-se positivo para o autor e Timor pode estar no bom caminho para o progresso: "Acredito que os partidos no Governo e na oposição, à medida que vão surgindo mais problemas, vão resolvendo. E isso só pode levar a um fim: a estabilidade", afirmou.
"Julgo que este ano este Governo tem feito coisas positivas em Timor, como a questão dos deslocados, resolvendo também a qustão dos ex-combatentes", defendeu.
Neste momento, Luís Cardoso luta por um sistema educativo, no qual poderia fazer parte uma biblioteca nacional, e que permitiria recuperar obras de autores timorenses que se encontram em Lisboa, na Torre do Tombo.
"Timor devia ter uma política de educação para o futuro, para saber o que fazer dos nossos jovens, das crianças que vão nascer", refere o autor, que tem contribuído com textos para os manuais escolares distribuídos nas escolas timorenses.
O autor gostaria também de ver resolvida a questão da língua até 2012, data até à qual existe a uniformização da língua portuguesa nas escolas. Num país onde o indonésio e o inglês são línguas de trabalho e a maioria dos timorenses fala tétum e outros falam português, a confusão pode imperar.
Luís Cardoso reconhece Timor como um país rico que "tendo petróleo, tem a atenção de muitos outros interesses".
"Existindo muito dinheiro em Timor, existem sempre riscos de corrupção", assinala.
Mas no caso de Timor, a presença de organizações internacionais ajuda a controlar a situação: "A comunidade internacional faz pressão enorme sobre este pequeno país e não sei como os governantes resistirão a estas pressões", concluiu o escritor timorense.
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